domingo, 24 de janeiro de 2021

Entrevista à Dra. Júlia Mendes Médica Anestesista na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Egas Moniz - Rodrigo Ribeiro 6º A

 

Rodrigo – Como é que lida com o risco de apanhar COVID-19 mais facilmente por trabalhar num Hospital?

 

Dra. Júlia – Tenho mais medo de apanhar COVID fora do Hospital, que dentro do Hospital. Emocionalmente, uns dias mais receosa, outros trabalhando como sempre fiz ao longo dos meus 40 anos de carreira, tentando ser o mais positiva possível. No Hospital onde trabalho é norma obrigatória a proteção física, ou seja, usar máscara cirúrgica dentro do recinto hospitalar e no exterior. Durante o cuidado de um doente, usamos máscara FP2, luvas e bata descartáveis.

 



 

Rodrigo – Como é ter de trabalhar com os equipamentos de proteção individual?

 

Dra. Júlia – A UCI (Unidade de Cuidados Intensivos) onde trabalho é considerada COVID FREE, quer isto dizer que recebemos doentes pós-operatórios programados ou doentes já internados com 1 ou 2 testes Covid negativos e com estes usamos a proteção já descrita.

Quando recebemos doentes pela urgência sem teste de Covid, usamos as FPI (Fato de Proteção Individual), que é composto por fato descartável, bata impermeável, fato branco (parecido com o dos astronautas). Usamos normalmente 3 pares de batas, 3 a 4 pares de luvas, máscara, viseira e cogula (parece um capuz).

Existe um protocolo que é seguido e supervisionado por outro elemento, mas o problema não está no vestir, mas sim no despir, cujos passos têm que ser seguidos à risca e mais uma vez supervisionadas por outro elemento. É no despir que há a possibilidade de nos infetarmos. Portanto muito cuidado. Imagina o incómodo, o calor, as máscaras mais apertadas durante mais ou menos 4 horas a tratar de um doente, sem poderes sair até acabares o que estás a fazer, senão terás que repetir todo o processo de veste/despe e aumentando assim o risco de propagação da infeção.


 


Rodrigo – Estes últimos meses têm sido muito mais cansativos que o normal?

 

Dra. Júlia – Claro que sim, em duas vertentes, a física, trabalho mais horas porque continuamos a ser poucos, os doentes são complicados e emocionalmente temos que lidar com o próprio medo e com o medo de alguns elementos que parece que têm um “complicómetro” que o ligam mal se levantam e nem sei quando o desligam. A falta de vagas (por sermos a única unidade COVID free, ou seja, sem doentes COVID, do CHLO (Centro Hospitalar Lisboa Ocidental) e portanto temos que receber os doentes do foro médico e os doentes em pós-operatório que acabam por ser os mais prejudicados. No pré-covid tínhamos quatro UCI´s (Unidades de Cuidados Intensivos) com 36 camas. No pós-covid temos uma UCI com 8 camas. As restantes camas são para doentes COVID positivo.

Conclusão, os cirurgiões pressionam-nos para termos vagas para os doentes cirúrgicos, que muitas vezes é impossível.

 


 

Rodrigo – Apesar de não tratar diretamente com doentes infetados, como é tratar um doente em estado grave com COVID-19?

                                                                                                                            

Dra. Júlia – É muito difícil e cansativo. É necessário usar Equipamento de Proteção Individual durante muitas horas. Os doentes estão debilitados e com problemas em vários órgãos, necessitam de ventilação (doentes entubados e ligados a um aparelho que se chama ventilador), o posicionamento, que pode ser decúbito dorsal (barriga para cima) ou decúbito ventral (barriga para baixo) e são precisas várias pessoas para alterar a posição do doente porque o mesmo está sedado. Foi necessário alterar terapêuticas ao longo destes últimos meses e também há muitos doentes com falência renal e consequente necessidade de serem ligados a umas máquinas que filtram o sangue.

 

Rodrigo – Alguma vez, enquanto médica assistiu a algo parecido com esta pandemia por que estamos a passar?

 

Dra. Júlia – Ao longo dos meus 40 anos de carreira, existiram 3 pandemias (Sida, Doença das Vacas Loucas e Gripe A), mas nenhuma delas se compara à atual em alguns aspetos, nomeadamente:

·      Velocidade de propagação;

·      Número de infetados;

·      Necessidade de Cuidados Intensivos;

·      Tratamento pela classe médica;

Em relação à terapêutica e à vacina, também não foram imediatos.

 

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